Atualmente, a conscientização sobre a presença e os riscos associados aos contaminantes emergentes tornou-se uma necessidade crucial, afinal, estes compostos gerados nos processos produtivos industriais e presentes em materiais domésticos, disseminam-se no meio ambiente através dos efluentes, causando uma contaminação em massa nos canais aquáticos.
O cenário é tão alarmante que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) destaca esse fenômeno como um alerta, evidenciando a importância de abordar e intensificar a fiscalização desses poluentes ― especialmente por parte das indústrias ― bem como o quanto é imprescindível a tomada de medidas efetivas para conter os impactos negativos que eles podem acarretar.
Mesmo que ainda não haja legislações específicas que direcionam o tratamento adequado dos contaminantes emergentes, já existem tecnologias capazes de reduzir seu nível poluidor. Mas, antes de implementar qualquer estratégia, é essencial compreender a natureza desses resíduos e os prejuízos potenciais que podem infligir à sociedade, ao meio ambiente e até mesmo às próprias empresas, em caso de descarte inadequado.
Contaminantes emergentes: o que são e quais seus impactos?
Os contaminantes emergentes são agentes que não eram previamente monitorados ou regulamentados, mas que passaram a ser identificados como potenciais preocupações para o meio ambiente e para a saúde humana. Eles podem incluir uma ampla gama de substâncias, como produtos farmacêuticos, produtos químicos utilizados em cosméticos, produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza, pesticidas, produtos de degradação de medicamentos, PFAs (substâncias per e polifluoroalquil) e, sobretudo, os microplásticos. Também é importante considerar os plásticos comuns usados em várias aplicações:
- PE (Polietileno): Um plástico versátil comumente usado em embalagens, recipientes e tubos devido à sua boa resistência química e elétrica, flexibilidade e resistência à umidade.
- PP (Polipropileno): Reconhecido pela sua resistência ao calor e a maioria dos produtos químicos, sendo ideal para recipientes de alimentos, embalagens industriais, tecidos e outros produtos.
- PMMA (Polimetilmetacrilato): Conhecido como acrílico, é transparente e resistente, utilizado em aplicações que demandam alta transparência, como janelas, displays e luminárias.
- PA (Nylon): Plástico durável e resistente, com boa resistência mecânica e química, comumente empregado em peças de máquinas, tecidos e cordas devido à sua alta resistência ao desgaste.
Segundo Diogo Taranto, Diretor de Desenvolvimento de Negócios do Grupo Opersan, cada um desses poluentes podem trazer impactos diferentes. Enquanto os PFAs, fármacos e pesticidas representam uma ameaça considerável à saúde humana, os microplásticos exercem influência nos corpos d'água, oceanos e solo; comprometendo sua vitalidade e contribuindo para a complexidade e prolongamento de doenças.
A dimensão do problema é tão grande que cada cidadão pode chegar a ingerir 1 cartão de crédito por semana caso a água da região possua uma alta concentração dos microplásticos.
Vale lembrar que o termo "emergentes" refere-se ao fato de que tais contaminantes estão se tornando cada vez mais identificados e estudados, revelando seus efeitos e presença em diferentes sistemas ambientais. Muitas vezes, essas substâncias não são regulamentadas ou monitoradas de maneira eficiente, o que destaca a necessidade de uma maior compreensão de seus impactos e da implementação de medidas para reduzir sua presença nos ecossistemas, além de estabelecer uma legislação nacional para monitorá-las.
Destinação de contaminantes emergentes: como adotar um tratamento adequado para esses poluentes?
Especialmente os microplásticos ― materiais que levam maior tempo para se decompor naturalmente ― estão permanecendo nos efluentes e águas residuais em função de alguns processos de tratamento que ainda não adotaram soluções efetivas para eliminar esse resíduo totalmente, os tornando um dos principais males que assolam a qualidade dos recursos hídricos.
Para obter avanços significativos na redução dos impactos causados por esses poluentes e demais contaminantes emergentes, é essencial engajar tanto a sociedade quanto as corporações, incentivando-as a superar desafios internos e iniciar ações concretas para reverter essa situação preocupante.
Neste contexto, 3 práticas merecem destaque:
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1 | Priorizar o descarte correto
Por mais genérico que possa parecer esse conceito, é preciso enfatizar a relevância do descarte responsável, um gesto que, apesar de simples, tem um impacto substancial.
A correta disposição de produtos específicos, tais como medicamentos, itens de higiene e beleza, exerce uma influência grave. Isso ocorre porque a inadequada eliminação desses itens pode resultar em efeitos diretos na fonte primária, trazendo impactos ao meio ambiente.
No contexto industrial, a prática pode ter maior relevância para companhias do ramo químico, que abrange negócios atuantes nos setores de cosméticos, de transformação e até farmacêutico ― verticais conhecidas por gerar resíduos líquidos com alto potencial poluidor. Porém, companhias de qualquer porte ou segmento também podem incentivar seus colaboradores a ter esse mesmo cuidado, afinal, o estilo de vida da população tem grande reflexo na proliferação dos contaminantes emergentes na água.
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2 | Tecnologia como fonte de tratamento
Embora não haja legislações específicas para o tratamento de contaminantes emergentes, atualmente já existem soluções tecnológicas avançadas de tratamento de águas e efluentes que podem ser adotadas para amenizar seus impactos.
Entre as opções mais notáveis encontram-se as membranas de tratamento, que abrangem desde a microfiltração até a osmose reversa, separando os sais da água e removendo todos os contaminantes emergentes solúveis (como os microplásticos), além de vírus e bactérias.
Adicionalmente, outras tecnologias em constante aprimoramento incluem os processos oxidativos avançados e a eletro-oxidação, os quais visam eliminar os componentes prejudiciais ao meio ambiente e à sociedade.
Todavia, quando se trata dos PFAs, é fundamental adotar uma perspectiva de longo prazo, pois são substâncias conhecidas por sua resistência à degradação e tratamento, apresentando um desafio significativo, onde a solução implica um planejamento em âmbito global para eliminar o uso desses compostos.
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3 | Conscientizar as indústrias sobre tratamento de água e efluentes para além das exigências legais
Estendendo o tópico anterior, apesar dessa situação estar se tornando cada vez mais preocupante, o número de indústrias que buscam tratar águas e efluentes para além do que requer a legislação ambiental ainda é reduzido, mas a implementação de ações que preservem integralmente os recursos hídricos deve aumentar imprescindivelmente.
De acordo com Diogo Taranto, estratégias como o estímulo ao uso de água proveniente de fontes alternativas, o aumento do incentivo governamental e a aplicação do reúso industrial são meios fundamentais para enfrentar esse desafio.
“É preciso ampliar a visibilidade do problema dos contaminantes emergentes”, destaca.
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A gravidade da poluição advinda dos contaminantes emergentes, que coloca em risco o abastecimento de água, a saúde pública e o meio ambiente, enfatiza a necessidade da correta gestão de efluentes urbanos e industriais para se promover a descontaminação. Em nosso país, entretanto, segundo o Instituto Trata Brasil, as estatísticas nesse sentido são preocupantes: 32 milhões de habitantes sofrem com falta de água potável.
Isso significa que, através da adoção de medidas eficazes no tratamento de águas residuais, aliada ao suporte de um planejamento global, representa um passo crucial na promoção de resultados positivos, afinal, essas iniciativas preservam a qualidade da água, contribuem intensamente para a conservação do meio ambiente e garantem o bem-estar da saúde humana.